Neste trabalho, uso o termo «devir» no seu significado filosófico mais amplo, considerando a mudança em si mesma como um processo de transição entre diferentes estados de «ser». A mudança é inevitável e uma parte essencial do nosso mundo. Ser e Devir é focado nas experiências de vários trabalhadores migrantes que deixaram os seus países de origem em busca de melhores condições de vida na Europa. Quis retratar a sua presença humana e revelar aspectos emocionais e inscrições (em rostos ou ambientes). Com estes retratos psicológicos, o meu objetivo era abrir um campo percetual no qual seja possível refletir sobre conceitos como «identidade híbrida», «terceiro espaço» e sobre o esforço multipolar que é viver entre culturas, línguas e fronteiras. Segundo Homi Bhabha, o «terceiro espaço» é uma área de ambiguidades, uma negociação constante entre espaços sociais e geográficos. Neste contexto «sócio-geocultural» instável, os emigrantes são sempre Seres em movimento, presos num espaço ambivalente e dual que pode produzir uma divisão nas suas identidades. No livro Ser e Devir, o geógrafo português Álvaro Domingues escreve que “É este o jogo permanente do devir identitário. Como numa complexa engrenagem cibernética, a identidade manifesta-se no tráfego cruzado da vida de todos os dias, entre realidades e expectativas, entre o sentimento de si e a relação com os outros, entre universos locais e locais universais.” Com este trabalho, o meu objectivo era explorar a complexidade destas intersecções através da fotografia, confrontando a minha prática com os sentimentos e ideias de diferença ou estranheza, e com as noções de fronteira, limite e mobilidade, de memória e identidade.