Este novo trabalho do fotógrafo português Virgílio Ferreira, intitulado Ser e Devir, alicerçado num método fotográfico simbólico e literário, é uma meditação de caráter subjetivo e imaterial sobre as vidas e ambientes de vários trabalhadores emigrantes portugueses que atravessam a Europa, tendo deixado o seu país natal para começar uma vida nova numa terra nova, principalmente por razões económicas.

Estas fotografias, quietas mas intensas, mostram-nos indiscutivelmente figuras, mas que são sistematicamente diluídas, ora focadas, ora desfocadas, em fundos extensos, enquanto, outras vezes, a representação dá lugar a manchas ou se situa, simplesmente, no limite da visibilidade. As imagens de Ferreira apresentam-se fluidas, soltas e transitórias, tal como os sujeitos que retrata. Jogam com traços difusos, obstruções e camadas de luz recortada para nos encerrar em momentos em que elementos do passado e do futuro se amalgamam com o presente.

Num certo sentido, as fotografias de Ser e Devir afiguram-se mais como uma coleção de provérbios dirigidos para certas verdades universais. Qualquer coisa está aqui a acontecer que anuncia uma união dos opostos, uma tese do fluxo universal que, no fundo, realça o quanto as coisas, no devir do tempo, são e não são o mesmo. O agora é o então: o que veio antes, vem depois.

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Being and Becoming / Ser e Devir' de Virgílio Ferreira, publicado na Linha Editorial scopio, resulta de um projecto fotográfico onde o documental e o artístico se cruzam de forma significativa, criando uma poesia moderna própria, questionando de forma crítica e imaginativa o nosso momento atual e, neste caso em particular, a diáspora portuguesa no mundo.

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Neste seu trabalho fotográfico, Virgílio Ferreira propõe-nos uma abordagem instável à questão da identidade – um exercício permanente de construção -, focando-se na condição do migrante na Europa. A questão não podia ser mais pertinente nos tempos que correm. Desde a tragédia de Lampedusa e dos migrantes clandestinos do Norte de África, às pulsões nacionalistas da Catalunha, à hegemonia alemã ou ao todo poderoso reino da linguagem da finança, não se percebe nada da mística da unidade na diversidade de uma Europa do Atlântico aos Urais...

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Cabe também às ciências sociais identificar as condições de reprodução da criatividade e os retrocessos em que se inscrevem as migrações. Somente a objetivação adequada de tais condições permitirá a superação da análise dos processos migratórios informados por barreiras etnocêntricas recorrentes e ressuscitadas, bem como uma definição mais precisa das possibilidades de construção das migrações como espaço de afirmação da cidadania. É também nesta luz que podemos compreender o Ser e o Devir.

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La question de l’image un peu foue (slightly out of focus) a été débattue depuis la toute première introduction du médium photographique, mais la direction que doit prendre ce débat reste, aujourd’hui encore, un sujet d’actualité. Le double caractère de la photographie est au coeur de cette discorde : d´un côté la photographie peut produire une expression subjective (ou même poétique), et de l´autre elle est à même de saisir un document sec et descriptif de la réalité. C´est justement dans ce couloir que se situe Virgilio Ferreira. Plus d’un siècle après les premières expérimentations photographiques, ce dernier repousse un peu plus, et avec diligence, les limites de ce médium.

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As imagens que constituem a série Passages, de Virgílio Ferreira, situam-se num terreno que, partindo do dispositivo tradicional da fotografia, trabalham, no entanto, não no sentido desse realismo ideal mas de uma outra espécie de representação analógica que, partindo da realidade externa se ocupa mais do sujeito que vê do que do objecto observado.
(...)

O estilo e técnica usados são, aliás, comuns a outros trabalhos de Virgílio Ferreira, como 'Uncanny Places', ou ‘Daily Pilgrims', onde a uma cidade se associa uma presença também ela fluida, ou toda a imagem se apresenta des-membrada, com uma aparência próxima da ruína.

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Que medo é este que, neste fim de milénio, se apodera do nosso sentir? O que é que perturba e confunde a nossa experiência e o nosso juízo? O que nos faz sentir ameaçados, intimidados, assustados? (Mário Perníola, “Enigmas”, 1990)

(...)

Vivemos uma cultura do enigma. E o enigma, que alimentou desde sempre a nossa relação com o mundo e os outros, nasce da consciência vaga mas intermitente, do  colapso do passado e do futuro. E isso dá-se quando o que foi antigo e o que poderá ser o futuro coincidem num presente desmesurado; passado e futuro, então, não só se assemelham, como se confundem; isso dá-se quando os homens mais se identificam a coisas, - a paisagens - e o mundo inorgânico, com a tecnologia electrónica substitui o homem na percepção dos fenómenos...

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Virgilio’s works rebel against Henri Cartier-Bresson’s ‘The Decisive Moment’. According to Bresson, ‘Photography is the simultaneous recognition, in a fraction of a second, of the significance of an event, as well as of a precise organization of forms which give that event its proper expression.”.

'The Decisive Moment’ can establish a visual order, which have its influence on the photography world for a long time. Virgilio’s ‘Uncanny Places’ seems to indulge in the uncertainty and impreciseness of the inside and outside of an event. Even the event itself is being overlapped. A sense of turning away and revolt can be easily detected.

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El error fotográfico como indicio: explorando la relación entre la fotografía y la experiencia de la ciudad en Daily Pilgrims de Virgilio Ferreira.

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Mystic, poetic and introspective, the photography of Virgilio Ferreira (Porto, 1970) transgresses the borders between reality and dream, affinity and remoteness, earthy corporeality and sublimity. Though inextricably linked with the “battlefield” of everyday life through travels to geographically identifiable places and encounters with local “anthropologies”, Ferreira’s work goes as a whole beyond any plain documentary approach. It transmits the “aura” of a “palpable” human truth blurred by globalization and multiculturalism.

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Em todas as grandes cidades do mundo encontramos estes indícios, estes sinais do tempo que vivemos – estes neons, estes entardeceres, esta agitação de corpos, de máscaras e de olhares. A cidade contemporânea faz-se fotograficamente abrindo ou mostrando as brechas da inquietação da sua disciplina.

As fotografias, que nos oferecem uma sugestão de realidade, são fragmentos imprecisos de totalidades ausentes; é o nosso olhar cultural que reconstitui o sentido do cenário, que lhe empresta ruído e significado num inequívoco consenso de memórias e desejos: um fotógrafo é predador, sabe utilizar as argúcias de um predador.

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O percurso de Virgílio Ferreira, permite-nos afirmar estarmos em presença de um dos mais rigorosos fotógrafos nacionais na área do retrato. Contudo, nesta série, “Daily Pilgrins”, o autor decidiu quebrar as regras académicas da iluminação e composição tradicionais daquele território fotográfico, para nos fazer mergulhar num ambiente bem mais obscuro, que nos obriga a uma análise transcendente aos paradigmas comuns da imagem fotográfica.

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Na Terra Prometida, global e iluminada, a Terra de Ninguém, sem centro e sem ribalta. No O Jardim quotidiano, o reverso do local da peregrinação. Aqui chegámos, esvaziados, desencantados, coisificados, sem sentido. Peregrinos da racionalidade e da desalienação, da consciência histórica e da objectividade, da profanização e da individualidade, da ciência e da prospecção, da liberdade e da transgressão, da pluralidade e da civilidade.

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