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A noção de «inquietante» (ou como Sigmund Freud escreveu originalmente, Unheimlich) descreve um sentimento de estranheza e ansiedade. Na campo da psicologia, é frequentemente utilizado como o oposto de Heimlich, um termo que abarca tudo o que é familiar e agradável, uma profunda sensação homeostática de bem-estar. Adicionando o prefixo negativo «Un», o significado da palavra move-se para o reino do que está escondido e longe de nossa vista, mas de alguma forma consegue manter um vínculo connosco e evocar uma vaga sensação de familiaridade. A estranheza da sensação reside precisamente na imprecisão desse sentimento, na estranheza de algo que já foi familiar mas que, de alguma forma, se tornou estranho. Uncanny Places traça os passos de diferentes viagens por várias cidades da Europa, EUA, China e Rússia entre 2007 e 2011. Entregando-me ao acaso e à intuição, vaguei por lugares aparentemente comuns em estado de desorientação deliberada. A minha intenção era desafiar a ilusão da realidade objetiva, permitindo que os meus medos e desejos se soltassem e abrissem a minha mente à possibilidade de momentos de serendipidade criativa. Dialogando com o mundo exterior, descubro uma diversidade de sensações e múltiplas interrogações. O mistério e inquietação abrem um espaço de compromisso necessário, um abandono de nós mesmos que nos obriga a abandonar todas as referências acumuladas para que possamos alcançar uma experiência totalmente nova de presciência. O fluxo do passado para o futuro só pode ser perturbado pela nossa consciência desses momentos: à medida que percebemos a cena e a figuração em todo o seu potencial, abrimos um portal para o inquietante. Este é um portal feito de fragmentos e fissuras, de elipses, da linearidade interrompida da narrativa dos momentos. Um portal que não deve ser fechado, mas que revela o caráter fraturado da contemporaneidade, a desintegração radical do tempo e do espaço e a incerteza de tudo o que está previsto.